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terça-feira, 5 de março de 2013

Família Göller


A VIAGEM DE NAVIO



Esta carta foi escrita pelo esposo de Elisabeth Göller no ano de 1847, gentilmente cedida por Fábio Anschau, descendente de Johann Anschau. As famílias Anschau e Göller fizeram a mesma viagem da Alemanha para o Brasil, sendo este documento um precioso relato dos principais acontecimentos ocorridos durante a travessia destes imigrantes no veleiro brigue-escuna Antonia, até a chegada ao seu destino no Rio Grande do Sul. Ao longo da narrativa, Johann Anschau também descreve com detalhes a vida dos imigrantes alemães procurando adaptar-se à difícil realidade brasileira daqueles tempos, expressando, em algumas passagens, um afeto sincero e respeitoso para com os seus amigos e parentes na Alemanha. As ilustrações foram introduzidas no texto, com o propósito de conduzir o leitor a esta breve viagem pelo tempo.


CARTA DE JOHANN ANSCHAU - 1847


Tradução da primeira carta enviada por este imigrante da Família Anschau, para seus familiares na Alemanha, a qual foi traduzida por um padre, cujo nome é por nós desconhecido, na década de 1960. A carta original foi escrita no alemão gótico.


"Escrevo na selva, no dia 25 de outubro de 1847.


Minha muito querida irmã, cunhado e todos os amigos,




No momento em que pego a pena para escrever, estou chorando, em amor profundo a todos vocês, saudades e também as experiências são indescritíveis. A viagem definitiva aconteceu, a despedida de vocês também. O que começou a se realizar com dificuldade agora está se tornando em alegria máxima. Nós todos chegamos a esta terra com uma boa saúde. A nossa viagem de Gobis até esta colônia alemã, assim eu queria contar um pouco o seguimento da viagem.

Saímos de casa no dia 22 de abril e, no mesmo dia, às 14 horas chegamos a Ellm e, no dia 23, chegamos à Holanda. Lá nos paramos, tivemos abrigo, mas o nosso mantimento nós tivemos que providenciar. No dia 28 fomos adiante e, antes da noite, chegamos a Wien. Lá nós ficamos até o dia primeiro de maio, indo então adiante e, lá pelas 12 horas, chegamos ao rio Elbe, onde lançamos âncora, porque a maré ficava muito alta à noite. Às 2 horas, velejamos adiante e, ao raiar do dia, chegamos a Hamburg, onde fomos levados, despachados para o navio Antonia. Zarpamos no dia 4 de maio.


Antigo Porto de Hamburgo - Alemanha


O brigue Antonia zarpou do Porto de Hamburgo na data de 04/05/1847


No dia 8, antes da noite, deu um temporal que parou pela manhã. Doenças não se mostravam pelo navio, porém, no dia 10 de maio, uma criança de um imigrante morreu e foi jogada ao mar, enrolada em panos. No dia 19 de maio, levantou um temporal que nos deixou com muito medo. Dois dias durou a tempestade. No dia 25, chegamos ao mar aberto, e tínhamos quase sempre um bom vento. No dia 7 de junho, passamos o canal, e chegamos ao oceano. Do dia 12 ao dia 19, quase não tínhamos vento, e o navio ficou completamente parado. No dia 20 de junho, a esposa de Jacob Witt deu a luz a um filho. No dia 23 de junho, chegamos ao equador; agora já temos que suportar um calor muito grande, mas suportamos tudo muito bem. No dia 25, veio vento novamente e, do dia 28 até o dia 11 de julho, sempre teve um vento muito bom. Então, chegamos ao porto, mas não podíamos atracar naquele dia por causa de um desastre.


Porto da cidade de Rio Grande RS

 

No dia 12, podíamos entrar. Foi uma alegria muito grande que não dá para descrever.

 

O brigue Antonia atracou no Porto de Rio Grande na data de 12/07/1847




E foi mais alegria ainda quando, no outro dia, recebemos mantimentos, alimentos e, nas custas do Imperador, fomos despachados para um vapor. No dia 16, chegamos à capital da colônia alemã.



Chegada a Porto Alegre na data de 16/07/1847


Lá pagamos uma pequena quantia, e fomos levados para outro vapor que balançou bastante, mas chegamos rapidamente. A viagem durou da manhã até a noite e, então, chegamos a São Leopoldo no dia 18.


Chegada a São Leopoldo na data de 16/07/1847



Então, veio ao nosso encontro Jacob Sommer, que já está há 20 anos no Brasil. Também a sogra do Johann nos recepcionou com alegria, para nos levar à colônia que distanciava da cidade de São Leopoldo umas 5 horas. Lá conhecemos o cunhado do Johann. Depois de 3 dias, começamos na nossa colônia. Tomamos posse dela e de mais uma colônia para o nosso cunhado Johann. Elisabeth e o seu marido ainda estão conosco. Ele ainda está agradecendo ao Anton por ter ficado ali com eles até agora. Ele trabalha numa ferraria, e ganha por dia 2 pilsen.


A nossa colônia dista do primo Sommer 4 horas e a do Dhein 5 horas. Este já veio antes, voltou, e de novo voltou ao Brasil. Até agora estamos “deitados” (quer dizer acomodados) nas cobertas, nas camas do Sommer, e vamos bastante bem. Ele tem terras onde nós também podemos plantar. Plantamos bastante e, de agora até abril, não precisamos comprar mais nada, mas podemos vender, o que para nós é muito bom. A nossa colônia mede por medidas alemãs 300 braças. Plantamos batatas, feijão e milho, este é um tipo do qual podemos fazer farinha. Também temos plantas que se aproveitam as raízes (aipim). Temos muita terra para plantar e outras qualidades. É tudo como na Alemanha, mas aqui não se planta tão seguido, pois não custa tanto.
 

Tudo vai do jeito mais barato. Vocês querem saber como é a composição da terra aqui? Ela é como lá, mas é fácil de trabalhar nela. No mais, é tudo a mesma coisa, mas aqui não é preciso entregar nada. O colono é livre de todos os impostos. No Brasil, quase todos são colonos. Eles precisam do colono, porém este país tem as suas dificuldades, nada é perfeito no mundo. Tem muitas cobras, macacos, porcos selvagens e bichos de pé.



Com as igrejas e escolas, é como na Alemanha, mas a cada dia fica melhor. Tem uma igreja em frente à casa do Lerner, na qual o Johann e a Elisabeth e todos nós participamos da Santa Comunhão, mas não tinha uma confissão antes, como é costume na Alemanha. Também os batizados são como lá, com três a quatro padrinhos.



Querida irmã e irmão, se vocês quiserem vir, então confiem em Deus, e comecem a viagem nos braços Dele. Se deixem agregar pelo agente em Mainz, pois o Johann tem o endereço do navio. Nós também pagamos a carta.



No dia 10 de setembro, o Lorens Gerhardt também chegou com boa saúde e bem alegre aqui no Brasil, e nos entregou a carta pela qual nos alegramos muito. Por isso, também queremos participar tudo o que nós passamos aqui desde que nos separamos de vocês. O Lorens casou e não tem nada. Como nós só temos 30, ele precisa de tudo.



Querida irmã, se tu vens, traga junto um fogão, e traga também alguns potes de barro nos quais se pode fazer manteiga. Encha os mesmos com algo de uso, e guarda, empacota muito bem. Traga ainda os manuais coloridos, custe o que custar. Louça de pedra ou de barro e o melhor que tu tiveres em mãos. Traga também para a viagem tudo o que podes precisar. Compre também um pouco de pão para o começo da viagem, pois primeiro todos ficam meio tontos, mas isto é só por alguns dias. Traga também sementes de cebola.



Ass. Johannes Anschau.”







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