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Os artigos veiculados neste blog podem ser utilizados pelos interessados, desde que citada a fonte: GÖLLER, Lisete. [inclua o título da postagem], in Memorial do Tempo (https://memorialdotempo.blogspot.com), nos termos da Lei n.º 9.610/98.

quinta-feira, 18 de abril de 2024

Memórias de uma Cidade - Cemitério Espanhol


Detalhe da fachada do antigo Cemitério Espanhol em Porto Alegre RS – Foto original de Tiago Esperoto - Memorial da Angelus

A imigração espanhola no Rio Grande do Sul ocorreu por volta de 1885, a partir do qual vieram cerca de 10 mil espanhóis, que se distribuíram pelas mais importantes cidades gaúchas. No caso de Porto alegre, estes imigrantes em sua maioria colaboraram principalmente como trabalhadores braçais, nos ramos da construção civil e de obras urbanas, mas não faltaram artesãos, comerciantes, industrialistas e profissionais técnicos especializados. Passados alguns anos, surgiu a Sociedade Espanhola de Socorros Mútuos, que foi fundada em Porto Alegre em 01/08/1893, cuja sede foi inaugurada somente em 14/03/1929, esta localizada na Rua Andrade Neves, nº 23, no centro da Capital. Durante a guerra civil espanhola, houve uma cisão entre os seus membros, época em que passaram a existir duas sociedades: uma para os republicanos e outra para os franquistas. A unidade veio somente após 1994. 


O prédio da antiga Sociedade Espanhola de Socorros Mútuos, no Centro de Porto Alegre – Foto: Lisete Göller


Detalhe do prédio da Sociedade Espanhola – Foto: Lisete Göller

Os imigrantes espanhóis perceberam a necessidade de construir um cemitério a partir de 1905, porém não conseguiram realizar a edificação de um panteão, onde seriam guardados os restos mortais dos sócios mais antigos, monumento característico dos cemitérios de sociedades, por falta de recursos financeiros.


Vista da entrada do extinto Cemitério Espanhol em Porto Alegre RS – Fonte: Goggle Street View


O extinto Cemitério Espanhol, situado na Av. Porto Alegre s/nº, no Bairro Medianeira, foi desativado em dezembro de 2000, tendo abrigado no total 492 túmulos. Além de imigrantes espanhóis, havia sepultados de diversas nacionalidades, assim como exilados espanhóis, republicanos e militantes do movimento operário internacional (FORGS, COB, CNT da Espanha e da AIT).


Vista interna do antigo Cemitério Espanhol – Fonte: Internet


À esquerda, uma vista de parte do Cemitério Espanhol, nas proximidades do Cemitério João XXIII (ao centro), inaugurado em 1972 – Fonte: Site do Cemitério João XXIII – Década de 1970

Posteriormente, a Sociedade Espanhola procedeu à negociação do cemitério com a empresa funerária Angelus, partindo da doação do mesmo sem ônus, em troca da perpetuidade de 20 túmulos e 30 nichos, cujo valor foi avaliado financeiramente na época do negócio, além da desoneração de todos os trâmites legais envolvidos. Os responsáveis e familiares pelos sepultados foram notificados, devendo estes providenciarem o traslado para outros cemitérios. Os sepultados não procurados seriam removidos para o ossuário do Cemitério da Santa Casa.


O prédio da Angelus – Memorial e Crematório Angelus – Foto: Lisete Göller


Reconstituição simbólica do antigo muro de alvenaria e gradis de ferro, atribuídos ao arquiteto Fernando Corona no estilo neocolonial espanhol, inserido no muro de entrada da Angelus – Foto: Lisete Göller

A Angelus construiu um novo cemitério, no terreno do Cemitério Espanhol, que se situa entre o terreno do Cemitério da Santa Casa e o Cemitério da Igreja Batista. A empresa oferece basicamente ao público serviços de crematório, nichos, columbários, capelas funerárias e salão nobre para cerimônias.


CONHECENDO O MEMORIAL


No Memorial criado pela Angelus encontramos um pouco da história do antigo Cemitério Espanhol - Foto: Lisete Göller


No Painel In Memoriam constam os sobrenomes das famílias dos sepultados no Cemitério Espanhol - Foto: Lisete Göller


Sobrenomes em destaque no Memorial - Foto: Lisete Göller 

A ARQUITETURA DO CEMITÉRIO


Painel tendo por tema a arquitetura do Cemitério Espanhol - Foto: Lisete Göller

O arquiteto espanhol Fernando Corona, que projetou o prédio da Sociedade Espanhola no centro de Porto Alegre, elaborou um estudo para o cemitério, onde estava prevista a construção de um edifício linear com seis andares, de modo que os jazigos seriam organizados em torres verticais, o que ampliaria a capacidade de sepultamentos. Corona projetou também a construção de um panteão na parte frontal, que guardaria os restos mortais dos primeiros sócios. Tal projeto não vingou, pois as dificuldades financeiras para implantação do projeto não o permitiram. Restou o cemitério na sua concepção original, assim permanecendo até o fechamento.


Painel sobre a arquitetura: fotos originais contantes no painel de autoria de Tiago Sperotto, 2012, cedidas por Luciano Reichenbach Araújo e Tarcísio Juarez Fonseca de Araújo - Foto: Lisete Göller


Estudo arquitetônico não executado de autoria de Fernando Corona – Fonte: Acervo do Centro Espanhol - Foto: Lisete Göller


Jazigos originais do antigo Cemitério Espanhol - Foto: Lisete Göller


Levantamento do Cemitério Espanhol de 10/06/1949 com plano de implantação – Fonte: Acervo do Centro Espanhol - Foto: Lisete Göller


Detalhes internos do antigo Cemitério Espanhol - Foto: Lisete Göller


 Painel - Foto: Lisete Göller



Painel - Foto: Lisete Göller



Painel - Foto: Lisete Göller


Monumento funerário remanescente do casal Luciano Villodré Gomez e Conceição Villodré Serrano - Foto: Lisete Göller


Lápide com inscrições - Foto: Lisete Göller


A Linha do Tempo da Comunidade Espanhola e o Cemitério: desde a fundação da Sociedade Espanhola de Socorros Mútuos em Porto Alegre, em 01/08/1893, seguida pela inauguração do Cementerio Español em 18/11/1906, até a inauguração do novo Cementerio Español em 2018 - Foto: Lisete Göller


Fotos aéreas de Porto Alegre e do Bairro Medianeira nos anos 1950 e 1960 - Foto: Lisete Göller


Plantas e mapas do Município de Porto Alegre - Foto: Lisete Göller


Bairros de Porto Alegre e o Guia Histórico de Sérgio da Costa Franco com o verbete Cemitérios - Foto: Lisete Göller


Reprodução de parte do Livro de Óbitos original, da Sociedade Espanhola de Socorros Mútuos, aberto em 18/12/1906 - Foto: Lisete Göller


Listagens dos sepultados no Cemitério Espanhol - Foto: Lisete Göller


Histórico da Comunidade Espanhola e o Cemitério - Foto: Lisete Göller


Escrituras e documentos relativos ao Cemitério Espanhol - Foto: Lisete Göller


Detalhe da cobertura envidraçada do Memorial - Foto: Lisete Göller


Fachada do atual prédio do Centro Espanhol no Bairro Higienópolis em Porto Alegre - Foto: Lisete Göller

OS SEPULTADOS


A Angelus contratou empresas especializadas em museus e memoriais, para realizar um trabalho técnico e de recuperação da memória do antigo ‘Cementerio Español’. Foram contratadas a Tedesco & Bertaso, de São Paulo, através da arquiteta Stella e a Lahtu Sensu, da cidade de Santa Maria RS, através da Sra. Lucia Silber. O Memorial está aberto para visitação ao público 24 horas por dia. Pelo contato mantido com Lucia Silber, esta explicou que foi realizada uma pesquisa sobre as pessoas sepultadas no antigo Cemitério Espanhol, através de fontes distintas, cujos dados foram cruzados e, por fim, apresentados num dos expositores existentes no Memorial. As fontes da pesquisa foram as seguintes: 

1) Angelus – 11 listas de exumações realizadas no antigo cemitério;

2) Centro Espanhol - levantamento cadastral das pessoas enterradas até 1988, cujos registros manuscritos são oriundos dos arquivos da Sociedade Espanhola de Socorros Mútuos, no tocante ao Cementerio Español – Relacción de Sepulturas – Orden Alfabético - Dezembro, 2012;

3) Centro Histórico-Cultural da Santa Casa - índice das pessoas que foram sepultadas no Cemitério Espanhol, desde a dia de sua inauguração até a data de 30/05/1949 (fls. 1 a 8) e, em outro levantamento, até a data de 10/10/1968 (fls. 9 a 12).

A listagem abaixo foi transcrita através dos dados constantes no arquivo do Centro Espanhol e no site O Syndicalista, totalizando 465 sepultados. O ano mais antigo de falecimento é o de 1906 e o mais atual tem a data de 24/12/2000.














segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

Família Mossmann - Obituários - Ramo Rosina Mossmann Lauermann


Fonte: Acervo Benno Lermen - Instituto Anchietano de Pesquisas/UNISINOS. 

IMIGRANTE ROSINA MOSSMANN E ESPOSO MATHIAS LAUERMANN


Obituário de Mathias Lauermann (*19/03/1823 Bardenbach, Saarland, Alemanha/+30/12/1898 Picada Feijão, Ivoti RS), filho de Johann Lauermann e Magdalena Kreutzer, esposo de Rosina Mossmann



IMIGRANTE ROSINA MOSSMANN E ESPOSO MATHIAS LAUERMANN

SUB-RAMO ELISABETHA LAUERMANN E PETER FÜHR


Obituário de Elisabetha Lauermann Führ (*30/04/1851 Picada Feijão, Ivoti RS/+17/05/1940 Picada Feijão, Ivoti RS), filha de Rosina Mossmann e Mathias Lauermann 





sábado, 11 de novembro de 2023

Família Schuster - Álbum de Família - Andreas Schuster - Ramo Pedro Schuster


RAMO PEDRO SCHUSTER (FILHO DE ANDREAS SCHUSTER) E BARBARA WELTER – SUB-RAMO GUILHERME SCHUSTER E PERPÉTUA CAROLINA FERREIRA

Guilherme Schuster (atrás da noiva) e Perpétua Carolina Ferreira (atrás do noivo) no casamento da filha Guilhermina Schuster, com Cipriano Ivo Meneguzzo, filho de Luigi Antonio Meneguzzo e Maria Magdalena Canali – 08/04/1933 – Lagoa Vermelha RS – Acervo de Paula Mariele Meneguzzo

 

Perpétua Carolina Ferreira (ao centro, sentada), com a filha e netos: (atrás, dir. p/esq.) Guilhermina Schuster Meneguzzo, Adão Isonel Schuster, Ivan Schuster e jovem desconhecida; (à frente, dir. p/esq.) Ivori Schuster (sentado), Idemar Luiz Schuster e Ivone Schuster (sentada) – Anos 1950 – Lagoa Vermelha RS (possivelmente) – Acervo de Paula Mariele Meneguzzo



Ivan Meneguzzo, filho de Guilhermina Schuster e Cipriano Meneguzzo, com sua tia Jurema Schuster dos Santos, filha de Guilherme Schuster e Perpétua Carolina Ferreira, e esposa de Frederico Ritter dos Santos – Fevereiro/1992 – Ponta Grossa PR – Acervo de Paula Mariele Meneguzzo


domingo, 1 de outubro de 2023

Família Abarno - Histórias


O MÚSICO VICTOR PIETRO ABARNO


Victor Abarno com o popular chapéu-palheta – Início da Década de 1920


Victor Abarno (*01/01/1909 Alegrete RS/+20/08/1989 Porto Alegre RS) era filho de Victor Manoel Abarno e Doralina Pietro e neto do imigrante italiano Nicola Abarno e da alegretense Maria do Carmo Machado. Sua paixão pela música manifestou-se desde a juventude, tendo escolhido o violão como instrumento de manifestação de seu talento. O destino, anos mais tarde, o levou à perda da visão, mas esta limitação física não o afastou de seu amor à música, sabendo aplicar, com maestria, os conhecimentos do instrumento que já dominava. 


Victor Abarno – Década de 1930

Nos anos 1930, Victor Abarno fez parte do Conjunto Regional de Piratini, apelido de seu criador, radialista e músico Antônio Francisco Amabile (1906-1953). Este foi o fundador da Casa do Artista Rio-Grandense, inaugurada em 1949, no Bairro Glória, em Porto Alegre RS. Amabile e seu Regional tiveram o auge do sucesso entre a segunda metade da década de 1930 e a década 1940. Conjunto Regional é como se chamavam os grupos que interpretavam a música popular brasileira, especialmente o chorinho. 

Amabile criou o programa “Hora do Bicho”, no auditório da Rádio Difusora, que foi ao ar em 1937, sendo este um concurso para artistas principiantes. Quando o artista não correspondia ao esperado, este era ‘bombado’ e desclassificado. Na foto abaixo, vemos Victor Abarno, com seu violão, no canto esquerdo, ao lado dos demais integrantes do conjunto. No ano de 1944, devido ao grande sucesso do programa, este foi transferido para o Cinema Rex. 


Jornal Folha da Tarde, Porto Alegre, 04/10/1937, pg. 14.

O conjunto naquela época era composto por Antônio Amabile na flauta, “Carne Assada” no cavaquinho, Japonês, apelido de Victor Abarno, Dutra no segundo violão (mais tarde este saiu do grupo) e o pandeirista Mateus Nunes, o Caco Velho. Este último chamava-se Mateus Nunes, tendo recebido o apelido pela música “Caco Velho”, de Ary Barroso, que bem a interpretava. Além disso, foi parceiro de Antônio Amabile nas músicas “Carreteiro” e “Mãe Preta”, gravada pela portuguesa Amália Rodrigues, que mudou a letra e o nome para “Barco Negro”, vindo depois a ser o tema musical no filme “Os Amantes do Tejo”.

No ano de 1938, o Regional foi contratado pela Rádio Belgrano, de Buenos Aires, que mudou o nome para Conjunto Regional Brasileiro. A turnê durou 5 meses e, em junho de 1939, apresentou-se na Rádio Carve, de Montevidéu. Numa listagem de 1938, relativa ao buque General Alvear, navio de bandeira argentina, que partia do porto de Montevidéu, a pesquisadora encontrou os nomes dos artistas que figuravam no rol de passageiros. Na volta ao Brasil, Amabile continuou o seu trabalho na Difusora com o Regional, até a sua morte em 1953. Esta importante parte da história será contada mais adiante, através da transcrição de uma matéria veiculada na Revista do Globo. 

Victor Abarno continuou sua carreira de músico no Conjunto Regional. Ele havia se casado, em 03/07/1948, com Octacília Maria (Ceci) Dias de Farias (1907-1994). No ano seguinte, o casal teve o filho José Luiz Farias Abarno. O regional começou a se apresentar dentro da programação da Radio Farroupilha, especialmente no programa infantil “Clube do Guri”. Este programa era realizado ao vivo semanalmente, sendo comandado por Ary Rêgo (1918-2007), entre os anos de 1950 e 1966. Além do pianista, Ruy Silva, que tocava neste programa, o acompanhamento musical era realizado pelo Regional de Victor Abarno que utilizava os instrumentos cavaquinho, violão, violão tenor, flauta, pandeiro e bateria. Dentre os músicos que integravam o conjunto naquele tempo estavam o Victor, conhecido como "Japonês", Zico, Plauto Cruz, Zeno Ribeiro e Antoninho Maciel. Eles eram músicos conceituados e atuavam também em outros horários na rádio Farroupilha, mas não participavam de ensaios juntos. No dia do programa, eles eram orientados pelo pianista Ruy Silva. Como disse Ary Rego: "Esses aí (risada), era só dizer o tom pra eles, não precisava nem o Ruy tocar, era só dizer: é fá maior e eles ‘tavam’ tocando todos juntos (Ary Rego, com Dayse Rego p. 41).


A célebre foto de Elis Regina com o radialista Ary Rêgo, no programa “Clube do Guri”, que marcou época entre agosto de 1950 e julho de 1966; este ia ao ar pela Rádio Farroupilha, para a apresentação artística de crianças e adolescentes. Elis Regina teve seu começo neste programa, em 1957, aos 12 anos de idade. 


TRANSCRIÇÃO DA PUBLICAÇÃO DA REVISTA DO GLOBO DE 15/04/1961

Porto Alegre Musical (II)
Piratini, o da “Hora do Bicho”
Reportagem de Ney Fonseca

A vida artística de Antônio Amabile, mais conhecido por Piratini, iniciou-se mesmo em 1922, no 4º Distrito, quando entrou para o bloco carnavalesco “Passa Fome e Anda Gordo”. Nesta época, tinha apenas 15 anos e já trazia no sangue o micróbio da música. Mas ele não parou aí. De gênio irrequieto, Piratini queria chegar às alturas, que para ele representavam no rádio local. E o fez ingressando na Rádio Gaúcha, quando a mesma se situava nos altos dos Moinhos de Vento. Essa oportunidade abriu-lhe as portas da vida artística de Porto Alegre. Entrava na Gaúcha como contador de anedotas. E com certeza foi um dos pioneiros nessa especialidade, pois só muito tempo depois é que começaram a aparecer as anedotas radiofonizadas.


Além de compositor de sucesso, Piratini idealizou uma das grandes obras de caridade: a Casa do Artista Rio-Grandense.


Piratini era um homem dos sete instrumentos: além de atender a sua joalheria e os programas radiofônicos, tinha ainda tempo para jogar futebol com os colegas da Gaúcha.

Piratini na Gaúcha teve outra ideia: por que não transformar as anedotas em forma de esquetes? A ideia foi aprovada e Piratini começou a colocar ao seu lado outros artistas, amigos seus, que esperavam uma oportunidade. Veio Ema D’Ávila, Caco Velho e até o então famoso Paulo Coelho, transferiu-se com armas e bagagens para aquela rádio. Assim, aos poucos, o conjunto foi se completando.


Acima, outra fotografia do conjunto criado por Piratini (Victor Abarno com o violão 1º dir.).


A “Hora do Bicho” foi outra de suas ideias. Grandes artistas de hoje receberam bumbadas no palco, por ordem de Antônio Amabile.

Da mesma forma que sempre procurava inovações para apresentar no microfone, assim também trocava de emissora. Da Gaúcha foi para a Farroupilha de onde, por questão de um aumento não concedido, passou para a Rádio Difusora. Era, entretanto, um dos artistas mais bem pagos do rádio sulino, pois ganhava 200 cruzeiros por mês. Piratini tinha destas surpresas, um dia apareceu ante o diretor da emissora e pediu sua demissão: “Não é por nada – disse à guisa de explicação – é que estou pretendendo fazer uma tournée pela Argentina.” E de fato foi. Seguiu o caminho de outros artistas, que procuravam levar sua arte para fora do Rio Grande do Sul.


Nesta foto aparece Piratini cercado de elementos de seu conjunto e por Renê Bell, mãe da conhecida Estelita Bell, num esquete, tão à moda naquela época (Victor Abarno 4ª da esq. p/dir.). 



Acima, com o conjunto, entre outros, vê-se “Carne Assada”, Japonês (Victor Abarno 1º esq., sentado), Caco Velho e Suzana Ribeiro. Era um dos conjuntos de maior sucesso em Porto Alegre.


Ainda hoje o velho “Carne Assada”, companheiro em todas as horas de Antônio Amabile, recorda aquela festa de aniversário da Rádio Belgrano, de Buenos Aires. Durante a apresentação do conjunto de Piratini, quando o mesmo cantava um samba embolado, o locutor argentino, fazendo as vezes de cômico, começou a dar manivela nas costas de Piratini, como se este fosse um realejo. A plateia caiu no riso, o que não compreendeu Piratini, pensando que houvesse algo de anormal na música. Só um bom quarto de hora depois é que notou os movimentos do locutor. Mas não perdeu a presença de espírito, encaminhou-se para um boneco que se achava num canto do palco, agarrou-o no colo e passou a dançar, fazendo com que a plateia viesse abaixo de tantas gargalhadas e o locutor do programa se sentisse desprestigiado.


O Conjunto fez grande sucesso em Buenos Aires, quando se apresentou frente ao microfone da Rádio Belgrano, em 1938 (Victor Abarno 1º esq., sentado).


Outro fato interessante, nesta ocasião, ocorreu quando, ao entrar no palco, Piratini notou que uma das chaves de sua flauta estava quebrada, não servindo para mais nada. O único remédio foi colocar uma borracha no lugar e tocar assim mesmo. Para ele a maior surpresa foi que a flauta tocou melhor com esse conserto à última hora.

Longe de Porto Alegre, Antônio Amabile ficou cinco meses, apresentou-se com seu conjunto em Buenos Aires, Montevidéu e Assunção, ganhando aplausos e o cartaz que o acompanhou até sua morte.

Suas composições mais famosas, até hoje cantadas são: “Mãe Preta”, “Navio Negreiro” e “Amargo”. Outra é “Carreteiro”, que foi composta numa viagem, pelo interior do Rio Grande do Sul, entre Rio Pardo e Encruzilhada. Conta “Carne Assada” que Piratini sentiu-se inspirado quando viu uma tropa de gado que partia para o matadouro. Compôs a música, gravou-a na memória e na mesma ocasião, compôs “Navio Negreiro”.


Um de seus melhores amigos foi “Carne Assada”. Os dois fizeram de parceria várias músicas. “Carne Assada” vive ainda (1961).


Entretanto, Antônio Amabile ficou conhecido como o “Homem da Hora do Bicho”. Aos domingos não havia rádio, em casa de pobre ou de rico, que não sintonizasse o programa máximo de Porto Alegre. 

Piratini não ficou só nisso, idealizou e criou algo que ficará gravado para sempre, na história artística do Rio Grande do Sul: a Casa do Artista Rio-Grandense, fundada para abrigar os velhos artistas, para os quais a vida foi madrasta. A campanha para o erguimento desta Casa foi outra luta à parte na vida de Piratini. Perdeu horas de sono, sonhou milhares de vezes e, por fim, antes de sua morte, pôde ver seu idealismo concretizado. E até mesmo gente famosa, como o cômico mexicano Cantiflas, ajudou a construção da Casa do Artista.

Victor Pietro Abarno, depois de anos de trabalho como músico, aposentou-se. Faleceu em 20/08/1989, em Porto Alegre RS, sendo sepultado no Cemitério Municipal da Tristeza na Capital.



Fontes:
Anotações e fotos do acervo pessoal;
Apontamentos para uma história da música na era de ouro do rádio em Porto Alegre, de Luís Fernando Rabello Borges;
Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira;
Porto Alegre: uma biografia musical, de Arthur de Faria;
Revista do Globo, edição de 15/04/1961.